9 de julho de 2009

Histórias e poemas de ARLINDO NUNES SALVADOR


PAI NOSSO DOS BÊBEDOS

- Uva que estás na videira purificada, sejais sem enxofre, venha a nós o vosso líquido para ser bebido à nossa vontade tanto nas tabernas como nas nossas casas. Três litros por cada hora nos dai hoje, perdoai-nos às vezes por bebermos menos, assim como nós perdoamos o mal que o vinho nos faz, não nos deixei cair atordoados e livrai-nos da polícia atrás de nós. Ámen



12 MESES DO ANO

Vem o mês de Janeiro
Com as noites de luar
Visto ser sempre o primeiro
Do ano que vem a chegar

Fevereiro da perna curta
Não conseguiu alinhar
Tropeçou, caiu na murta
Não conseguiu lá chegar

Março é mais comprido
Caminha como a Severa
Tá visto e concluído
Entrar a Primavera

Abril é o mês da Páscoa
Vem-nos visitar a cruz
Ou de pé ou de joelhos
Dá-se um beijo em Jesus

Maio é o mês de Maria
É o mês das orações
Visto na Cova de Iria
Terem-se dado as aparições

Junho é o mais pimpão
No Buçaco tem um cedro
Visto ter o S. João
S. António e S. Pedro

Julho tem a Madalena
Venera-se a vinte e dois
Foi santa quando pequena
Prostituta depois

Agosto é o mês das férias
Por tais dias tu anseias
Ouvem-se para aí muitas lérias
Por essas vilas e aldeias

Até as mulheres vaidosas
Já deixaram as minissaias
Para andarem mais vistosas
Sem bikini nas praias

Setembro é o mês dos vinhos
Ouvem-se cantos e rimas
Vão-se cortar os cachinhos
Porque começaram as vindimas

Outubro é o S. Francisco
É o mês das enxurradas
Vai tudo de barrisco
Enchem barrocas e luvadas

Novembro é o Sto André
E mingua dia a dia
Agarra-se o porco pelo pé
É para todos uma alegria

Dezembro é o Natal
Bate as palmas truz-truz
Para a família ideal
José, Maria e Jesus



A PRIMEIRA FONTE ANTES DA ÁGUA NASCER

Uma vez andava eu a apanhar azeitona com o Licínio, o meu filho, em frente à casa do Sr. Camarinha; e lá andava eu no cimo das escadas, entretido cantando umas cantigas como eu gostava de cantar, quando ele por lá apareceu apreciando as cantigas e versos que eu estava a recitar. Como eu sou surdo não reparei que ele estava ali; ao se aperceber das minhas cantigas, diz ele ao meu filho: - «O teu pai é improvisador, anda a fazer cantigas e versos, pergunta-lhe se ele me sabe dizer, em versos, onde era a primeira fonte antes de a água nascer.»
E assim foi, o Licínio veio-me contar o sucedido! Eu fiquei surpreendido mas respondi-lhe:
- «Diz ao Sr. Camarinha que agora de repente não lhe posso responder, mas que passe por cá amanhã que logo lhe dou a resposta.» Fui para casa matutar nesta pergunta até que consegui lá arranjar uma solução.
No outro dia, ao ver o Sr. Camarinha, fui ter com ele:
- «Bom dia, Sr. Camarinha!»
- «Bom, Arlindo!»
- «Então o Sr. ontem foi pedir ao meu filho se eu lhe era capaz de dizer, em versos, onde era a primeira fonte antes de a água nascer?»
- «Sim, é verdade!»
- «Então, escute:»

Depois de tanto pensar
Não encontro a solução
O Sr. tinha razão
Quando me veio perguntar
Se eu lhe sabia explicar
Onde ficava aquele monte
Lá para as bandas do horizonte
Onde a aurora vai romper
E se lhe sabia dizer
Onde era a primeira fonte.
Havia uma amoreira
Ao pé dum canavial
Não leve o Sr. a mal
Esta minha brincadeira
Mas se for aí à Cerdeira
A Coja ou Arganil
À Pampilhosa ou Cabril
Ninguém lhe sabe dizer
Se o Sr. tinha cantil
Antes de a água nascer.
Eu sou improvisador
Faço versos de improviso
Mas peço a Nossa Senhora
Que me dê sempre juízo
E me levai para o Paraíso
Onde o Adão foi viver
E a Eva tinha de ver
Onde existia tal fonte
Mas só lhe podia dizer
Era a Sra. Do Monte.
Eu não estou arrependido
Dos pobres versos que fiz
Sinto-me um pouco abatido
Visto que não sou juiz
Nem Duque nem Major
Não há segredo maior
Como o Sr. pode ver
Onde existia tal fonte
Só a Sra. Do Monte
É que lhe pode dizer.

O Sr. Camarinha, ao ouvir os meus versos, ficou admirado: - «Os meus parabéns! Nunca pensei que fosse capaz!»
- «Eu não disse ao Sr. que sabia onde era a primeira fonte antes de a água nascer, mas como o Sr. tem mais conhecimentos que eu se souber agradeço que me diga!»
- «Eu não sei, só me lembrei de lhe fazer esta pergunta porque uma vez em Lisboa
os meus colegas em brincadeira saíram-se com este dilema , mas ninguém descobriu !!

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