21 de abril de 2009

CHANFANA: UMA ESPECIALIDADE TAMBÉM DA NOSSA TERRA

História da origem da chanfana



Foi em pleno século XIX que a chanfana, tal como o define o Dicionário Morais, era considerado uma espécie de guisado de sangue e fígado extraídos do corpos das cabras, ovelhas, porcos, vacas ou bois, uma confecção bem diferente da nossa actual.

Consta-se então que a chanfana, como grande parte da doçaria tradicional portuguesa, nasceu num convento; mais precisamente no Mosteiro de Santa Maria de Semide, no concelho de Miranda do Corvo, tendo-se generalizado o seu consumo após a 1ª invasão francesa ( 1807) e elevando-se consideravelmente a partir de 1810, a quando da 3ªinvasão francesa e batalha do Buçaco.

Até finais do séc. XIX, o convento de Semide recebia dos moradores ( agricultores e rendeiros),o pagamento de foros. A maior parte destes pagamentos eram feitos com produtos da terra, tal como o vinho e azeite , e também com animais domésticos tais como cabras , ovelhas, galinhas, coelhos, etc; sempre em grandes quantidades de animais velhos que já não davam leite, nem se reproduziam. Esses animais , ao que se consta, eram entregues para pagamentos entre finais de Agosto e Setembro ( meses quentes em que os animais eram mais difíceis de sustentar) , quase todas as semanas neste curto espaço de tempo.

As freiras, como tinham grandes dificuldades em sustentar tantos animais, inventaram uma forma de conservar a carne já cozinhada. Como nesse tempo não existiam os frigoríficos ou outros tipos de congelação, guardavam essa carne em grandes tachos e panelas nos locais mais frescos, nas caves do mosteiro, mantendo-se aí protegidos durante muitos meses do ano, em bom estado de conservação, cobertos por um molho gorduroso que solidificava, sempre em boas condições de consumo. Este sistema de conservação ainda é praticado nos nossos dias, embora com o aparecimento dos sistemas de refrigeração seja muito pouco usual. Nos anos cinquenta e sessenta do século passado este sistema ainda era utilizado para conservar as carnes que sobravam das épocas festivas ( nos meses de Agosto e Setembro) por alguns dias . Sendo assim essa receita, confeccionada seria mais ou menos assim:

- A carne de cabra ou ovelha ( velhas) era partida aos bocados que se colocavam em grandes panelas de ferro ou barro, à qual se juntavam azeite, banha, dentes de alho esmagados com a casca, pimenta, colorau, salsa, louro, sal, noz-moscada, tudo coberto com vinho tinto incorporado.

- Estancava-se a porta do forno com a cinza ou farinha amassada em pasta e deixava-se cozinhar durante três horas ou mais até o forno esfriar ( numa versão mais antiga seria durante um dia e uma noite)

- Servia-se a partir do dia seguinte à confecção, aquecendo-se em menores quantidades num coçoilo mais pequeno, numa trempe junto à fogueira, acompanhada com batatas cozidas ou assadas acompanhadas também com grelos cozidos.

-Actualmente as confrarias existentes para estes eventos têm como logótipo um forno a lenha com caçoilos de barro preto e a cabra como símbolo da pastorícia


BOM APETITE!





1 comentário:

impulsos disse...

Ora aqui está um dos meus petiscos preferidos.
E o aspecto leva a crer que ficou deliciosa!!
Quase que adivinho os rostos cheios de satisfação na hora da degustação desta fantástica iguaria...
Só no Verão. pela altura das festas e das férias, é que tenho o prazer de me consolar com este e outros petiscos da nossa terra.

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